No último mês, o país viu um cenário econômico atípico se desenrolar: a queda das taxas de juros para um patamar considerado histórico. A taxa básica, a Selic, caiu para 6,5%, e pode cair ainda mais. Para efeitos comparativos, em outubro de 2016, esta taxa era de 14,25%.
A previsão do Relatório Focus, do Banco Central, é que este cenário se mantenha, pelo menos, pelos próximos dois anos, seguindo a desaceleração da economia.
Mas o que isso significa, na prática, para a sua vida?
O lado bom
Para quem tem empréstimos, financiamentos ou dívidas no banco, a queda dos juros é mais que bem-vinda, pois permite a renegociação desses contratos a taxas menores. Os empréstimos são os mais fáceis de negociar e, na maior parte dos bancos, já é possível fazer essa negociação pela internet, via internet bank.
Já para financiamentos, o processo pode ser mais complicado. Em alguns casos, é necessário ir a uma agência efetuar essa alteração de negociação no contrato. Se for um financiamento imobiliário, será preciso apresentar novos documentos.
E se você está pensando em comprar um carro, reformar ou até comprar uma casa nova, ou seja, adquirir dívidas, a taxa de juros baixa também é uma boa notícia para você. O ideal é que você já tenha uma reserva substanciosa para dar entrada nesses novos financiamentos.
Para empresas
Para empresas de pequeno, médio e grande porte, a queda da taxa Selic também pode ser recebida com boas-vindas, principalmente para quem estava esperando o momento certo de investir no próprio negócio.
O custo da empresa para fazer investimentos em capital fixo reduz e fica mais barato adquirir bens, principalmente nas linhas em que o bem adquirido fica como garantia.
Mas atenção! A economia do país ainda passa por momento de desaceleração, por isso é importante certificar-se de que sua empresa possui o fluxo de caixa necessário para abraçar um financiamento.
Para a economia
Com a queda dos juros, quem tem investimentos em renda fixa tem grandes chances de migrar para a renda variável, como a bolsa de valores. Isso é uma boa notícia, porque o dinheiro que antes estava “parado” em aplicações seguras e conservadoras, é realocado em setores produtivos da economia.
Quem investe está procurando maior rentabilidade e estará disposto a arcar com um risco maior também. Para empresas que estão a procura de um investidor, esse é o momento certo para “dar match”.
O cenário pode causar um impacto bastante positivo em startups e fintechs, por exemplo, além de outros setores. Mesmo que o retorno seja a um prazo maior, comparativamente, a rentabilidade torna-se mais atraente.
O lado ruim
Falando em investir: quem tem investimentos em renda fixa, como títulos do tesouro nacional, poupança e CDBs, a taxa de juros em queda significa uma queda em proporção similar de seus rendimentos. Isso vale principalmente para investimentos conservadores, de menor risco.
Como consequência, esse investimento deixa de ser tão atrativo e muitos realocarão seu dinheiro em outras fontes.
O único investimento de renda fixa que continua vantajoso é a antiga poupança, que matinha uma regra de rendimento mínimo de 0,5% ao mês, o que a torna hoje o melhor rendimento conservador do mercado, superando até títulos do Tesouro Nacional.
Por isso, para quem ainda tem essa poupança, é interessante “esquecer” o dinheiro lá. Como ela não aceita novos aportes e só permite retirada, isso seria um erro considerando o rendimento tão alto.
Juros e política cambial
Geralmente, quando ouvimos falar em taxas de juros pensamos em crescimento da economia, em desemprego e na inflação, mas a taxa de juros também é usada como política cambial, para influenciar o preço da moeda no mercado internacional.
Como isso acontece e por quê?
A taxa de juros básica de um país, quando comparada às taxas de outros países no restante do mundo, é um dos principais fatores de tomada de decisão de investidores externos que pretendem colocar (ou retirar) dinheiro no país.
Um exemplo é o aumento da taxa de juros básica dos EUA. Quando isso acontece, acarreta na desvalorização de moedas de outros países, esse impacto é ainda maior nos emergentes, e faz com que investimentos externos nessas nações caiam.
A mesma coisa acontece no sentido contrário: com a queda da taxa de juros americana, é comum que se inicie um fluxo de investimentos em países com taxas maiores. Essa é a forma que investidores estrangeiros mantém sua rentabilidade, mesmo que seja se expondo ao maior risco atribuído aos mercados emergentes.
Este cenário se repete em menor escala para o investidor nacional, que pode retirar seus investimentos do país e alocá-los fora, onde a rentabilidade compensa o risco - ou se o risco do país aumentar demais.
É importante lembrar que quando falamos em risco, não é só a probabilidade do investimento não dar certo, do título ou empresa em que houve o aporte não dar o retorno esperado. Porque, neste cenário, o risco também envolve a expectativa do valor daquela moeda no futuro.
Ou seja, mesmo se um país apresentar uma taxa de juros mais atraente para investimentos, se o mercado tem expectativa da constante desvalorização de sua moeda, o investidor tende a não agir. Pois no momento em que for resgatar seu dinheiro, a perda de força da moeda poderá ter comprometido seus rendimentos.
É por esse motivo que o Banco Central tem algumas ferramentas para intervir no câmbio nacional, que não é totalmente livre. E uma das formas de evitar a desvalorização do real é utilizando a taxa de juros.
Agora que você está munido de todas as informações importantes a respeito desta histórica queda das taxas de juros, pode tomar decisões financeiras melhores para seu futuro, seja de investimentos dentro ou fora do país, financiamento de sonhos ou crescimento da sua empresa!